No filme “Sinais”, de M. Night Shyamalan, após assistirem a imagens, pela TV, de luzes que indicavam a presença de OVNIs, ainda sem saber se os ETs eram amigáveis ou hostis, Merril (o personagem de Joaquin Phoenix) pede ao seu irmão Graham (o personagem de Mel Gibson), sacerdote licenciado, que diga algo para confortá-lo, naquela hora difícil. Graham, então, diz o seguinte:
“As pessoas se dividem em dois grupos. Quando passam por algo de sorte, o grupo número um vê como mais do que sorte, mais do que coincidência. Eles vêem como um sinal. Evidência de que há alguém lá em cima cuidando deles. O grupo número dois vê como pura sorte. Um acaso feliz. Tenho certeza que o grupo número dois está olhando para essas 14 luzes de forma suspeita. Para eles a situação é meio a meio. Poderia ser ruim, poderia ser boa. Mas por dentro, eles sentem que, não importa o que acontecer, estão sozinhos. Isso os enche de medo. Essas pessoas existem. Mas tem muita gente no grupo número um, e quando eles vêem essas 14 luzes, estão vendo um milagre. E lá no fundo, sentem que não importa o que acontecer, haverá alguém lá para ajudá-los. E isso os enche de esperanças. Você deve se perguntar que tipo de pessoa você é. Você é do tipo que vê sinais, vê milagres? Ou você acredita que as pessoas simplesmente têm sorte? Ou então, veja a questão deste modo: será possível que não existem coincidências?”
Eu, pessoalmente, pertenci por muitos anos ao segundo grupo. Desenvolvi uma postura cética, que me ajudou a adotar uma posição baseada em observação e raciocínio. A vida, porém, tanto nas questões pessoais quanto nas profissionais, vem me mostrando, de modo praticamente inquestionável, que as coincidências realmente não existem, pelo menos não do modo que costumamos pensar.
Trata-se de algo que vai além da simples “fé”, ou “crença” em Deus, como quer que O denominemos. Acreditar que existe Deus, que existe uma Força Superior, não garante que encontremos essa paz de espírito, que superemos os nossos medos, nossas incertezas. É preciso algo maior, mais profundo: é preciso confiar nessa Força Superior, acima de toda e qualquer circunstância, por mais desesperadora que pareça.
Não é uma tarefa fácil. Em geral, tudo e todos apontam para um universo feito apenas de matéria, conferindo à mente, ao pensamento, às emoções, um status de subprodutos, como se fossem “efeitos colaterais” da complexidade da matéria, a partir de sua organização biológica, genética, cerebral. Ir contra essa corrente é muito difícil, pois somos levados inconscientemente a adotar esse paradigma por diversos fatores, desde a abordagem da mídia até o discurso da ciência. O homem contemporâneo, pressionado pela velocidade das mudanças, pelas ameaças político-econômicas, pelo estímulo intenso à competitividade, deixa de enxergar as “coincidências” – ou, quando as vê, é levado a desprezá-las como “simples coincidências”. Deixamos de ver os “sinais”, por estarmos continuamente preocupados, correndo não se sabe de onde nem para onde…
A Vida, no entanto, mostra continuamente esses sinais. Algumas coisas são muito surpreendentes para serem “meras coincidências”. Um exemplo, que para mim é dos mais contundentes, está em um evento raro, porém não por isso menos significativo: a percepção, em regressão, dos mesmos eventos, por duas pessoas que não se conhecem (na atual encarnação). O livro “Só o Amor é Real”, de Brian Weiss, conta uma dessas histórias. Pessoalmente, tive a oportunidade de testemunhar um desses eventos. Duas pessoas, que até hoje não se conhecem, vivenciaram eventos complementares em uma mesma história – ocorrida há aproximadamente 150 anos, pelos relatos de ambas. Além disso, uma terceira pessoa também vivenciou eventos correlacionados àqueles, embora sua experiência não tenha tanto valor como evidência, uma vez que ela já havia entrado em contato com a história, previamente (através do meu relato). Não cabe aqui a descrição mais minuciosa dessas regressões, principalmente para preservar as identidades das pessoas envolvidas.
Essas e outras evidências apontam para uma determinada “lógica” nos encontros e desencontros. Os episódios, tão comuns que eventualmente passam como insignificantes, de “amor à primeira vista” (ou “ódio à primeira vista”, também…), de reconhecimento de pessoas significativas (na vida atual) como fazendo parte de histórias vividas há séculos, mostram que não estamos aqui apenas “por acaso”. Em outras palavras, parece haver propósito na Vida!
E o nosso “livre-arbítrio”, como fica então? Se somos regidos por essa Força Superior, se os eventos importantes das nossas vidas são, de alguma forma, regidos por forças e “planos” alheios aos nossos esforços, será que somos apenas “marionetes”, apenas com a ilusão de decidirmos algo em nosso caminhar?
Trata-se, claro, de uma questão sem respostas fáceis. O melhor que eu pude, até hoje, fazer, foi elaborar uma pequena metáfora:
A Vida é como um grande rio, caudaloso, de forte correnteza. Nós entramos nela apenas com um pequeno barco a remo, com apenas um único remo em nossas mãos. Não dispomos de embarcações poderosas, impulsionadas por motores potentes, temos apenas um pequeno bote e um único remo. Não nos cabe, portanto, decidir a direção a tomar. Se tentamos remar contra a correnteza, estamos fadados a sermos levados por ela, não importa quanto nos esforçarmos, e muito provavelmente seremos lançados nas pedras, tendo nosso bote espatifado, destruído. Se tentarmos acelerar nosso progresso no sentido da correnteza, provavelmente teremos o mesmo destino. Nosso remo não serve para isso! A nossa tarefa é, simplesmente, desviar das pedras. O rio nos levará aonde precisamos chegar, mas as pedras aparecerão no caminho. Precisamos, portanto, permanecer atentos, e usar nosso pequeno remo com sabedoria, apenas fazendo aquele pequeno esforço necessário para contornarmos os obstáculos, deixando que a Força da própria Vida nos impulsione.